terça-feira, 31 de maio de 2011

Relato de Experiência

por Antônio Monteiro da Silva

Leitura e Produção de Texto
Pós-Graduação UNIJORGE
 

MINHA EXPERIÊNCIA COM A LEITURA
(Do antigo Primário à Universidade)

 
Eu sempre disse que se fosse uma pedra rolando no caminho da estrada, ainda assim um dia alguém me pegaria e jogaria dentro de uma escola, tanta era a vontade de aprender a LER e a ESCREVER.

Hoje em dia, com a invasão da televisão em nossos lares, bom mesmo seria que todos, ignorantes ou não, tivessem COMPROMISSO COM A LEITURA. Ali no dia a dia, em qualquer canto, em qualquer lugar, em qualquer situação, com liberdade e sem modismo. Mas, se fosse por modismo que fosse como o pássaro mitológico... 

Veja, por exemplo, meus pais: nenhum foi à escola. Entretanto, meu pai aprendeu a ler e a escrever sozinho. Rabiscava o nome numa letra lindíssima. Meu pai nunca teve a presença magistral de um professor. Minha mãe somente conseguiu aprender a ler um pouquinho depois que eu fui para a escola e lhe ensinei o bê-á-bá. Ler, ler mesmo, nunca aprendeu. E dizia: “Eu já sei de tudo (referindo-se à idade). Estou velha; não preciso aprender ler coisa nenhuma. O mundo me ensinou o que eu precisava”. No entanto, era uma cega ao sair da periferia para o centro da cidade, de ônibus ou trem.
 
Mas, conforme aprendi com o Mestre Paulo Freire: “O homem e a árvore são seres inacabados”. Só que homem e árvore são diferentes. Porque, não obstante, ao homem cabe o PODER de refletir, decidir, agir e à árvore não!
 
Ora, meus pais eram analfabetos, mas NÃO ME DEIXARAM sê-lo. Desde a Escola de D. Benta – “Do escorrega lá vai um.” Ladeira constantemente cheia de lama, onde na base da palmatória aprendi as primeiras letras do alfabeto, lembro-me muito bem meu pai me incentivando à leitura: “Leia o Jornal A Tarde! Leia a revista “O Cruzeiro”! Você vai aprender muito! Eu lia e gostava. Aprendi muito mesmo, lendo não tão somente jornal, revistas; também as placas de propagandas, rótulos de garrafas de cachaça que minha mãe bebia, as bulas de remédios para seu reumatismo, os maços de cigarros que ambos (pai e mãe) fumavam. Talvez, por esses vícios, morreram tão cedo.
 
O interessante é que, apesar de meu pai me incentivar na leitura, quando me via lendo um GIBI (Tarzan, Capitão Marvel, Tio Patinhas, Pato Donald), aí “o bicho pegava”. Tomava o gibi e rasgava-o na frente de qualquer pessoa. Ameaçava-me de não ir para a escola. Ficar preso pelo pé, literalmente, no pé da mesa.

 Nesse ponto meu pai não refletia sobre a LEITURA. Entretanto, apesar do tempo ter passado, ainda percebo que muita coisa não mudou. Que muita gente não sabe pensar, refletir e executar a leitura – executar no sentido de pô-la em prática: democraticamente, dentro e fora da escola.

Para muitos professores, até das universidades, a leitura só se dá em sala de aula, às vezes na “base do chicote”

Quando meu pai, por sua formação militar, proibia-me de ler um GIBI, estava tentando me proteger de informações daquela época. Décadas de cinquenta e sessenta, o país atrasadíssimo, a Ditadura Militar pululando.

No entendimento de meu pai, A LEITURA DO GIBI ou qualquer texto que não fosse da escola, era MALÉFICO, poderia me contagiar e prejudicar meu futuro. Mas, ele não sabia que o fato de eu ler GIBI e outras revistas, essa leitura, segundo sua visão: “maldita e mal vista”, na verdade estava ABRINDO OS MEUS OLHOS para um horizonte além do batente da nossa porta. Como realmente abriu!

Como se tivesse no passado, vi no noticiário da televisão que dois garotos do Rio de Janeiro tiveram as suas mãos fritas pela mãe, numa frigideira, só porque estavam lendo um gibi. Essa atitude, proibindo “um errado/certo tipo de leitura”, constata como o nosso país não dá a devida importância à aprendizagem da leitura do seu povo.

 Sei que os brasileiros em sua maioria desejam aprender a LER. De procurar INTERAGIR COM OUTRAS PESSOAS E COM O MUNDO. Mas, quem tem a obrigação de “tratar bem da leitura” não o faz. Não me refiro somente aos governantes, também à sociedade.

É um horizonte? Podemos acreditar? Creio que sim! Porque nós temos que fazer, independente dos governantes, a nossa parte na LEITURA.
 
Esse horizonte, que se percebe mais próximo devido à tecnologia. Que devia ACELERAR O PROCESSO DE APRENDIZAGEM com incentivos à LEITURA: grandes tiragens de livros; leitura fora da escola; leitura de mundo... No meu simplório olhar, vejo-a distante. Estar no século XXI e SER PROIBIDO DE LER UM GIBI tendo as mãos fritas é algo surpreendente! AssustaDOR!
  
Em 1954, mesmo na base da “porrada”, naturalmente PEMITIDA por aquela  sociedade coronelista, a escola me ensinou muito, mas nela o contato com a leitura se deu de forma excessivamente autoritária. EU LIA AQUILO QUE ME DAVAM PARA LER. E foi assim o tempo todo: só livro didático.

Ainda bem que o fato de eu GOSTAR MUITO DE LER não só abriu o meu horizonte como também me deu a LIBERDADE que precisava: Também aprendi a gostar de ESCREVER... De escrever histórias!
 
Na época do Ginásio, meu ídolo preferido era nosso querido Jorge Amado. No início, em 1965, narrei longos textos imitando o seu estilo. Daí por diante li quase todos os clássicos portugueses e brasileiros.

 Em 1999, aos 51 anos, pela primeira vez na UNIVERSIDADE, para a minha surpresa descubro que o “ATO DE LER” é ainda visto como um bicho-papão. O que não deveria acontecer! Não só por parte de educandos, mas também por alguns educadores. Que chegam ao cúmulo de não LER e de indicar leitura com DOR, de livros que sequer leram. Pode uma coisa dessas?

O pior é que “eles” não permitem ao educando ESCOLHER O QUE DESEJA LER. Você É OBRIGADO A LER “O TEXTO QUE ELES QUEREM!” Ler por ler não significa nada. E LER OBRIGADO, COMO SE FOSSE PARA A MASMORRA é tedioso. É o que denomino LEITURA COM DOR.
 
Por isso, não me passou despercebida, que a prática da leitura no Curso de Letras Português, da Universidade Federal de Rondônia (1999), era raríssima. Além de existir uma gama de educadores com grande resistência às obras de Jorge Amado e Paulo Coelho.

 
Jorge Amado, segundo comentários, por causa dos palavrões. Palavrões? Quais os palavrões? “Xibiu”? Quanta hipocrisia!

Paulo Coelho, por causa dos “erros de português”. Ora, Jorge Amado é autor consagrado e reconhecido no mundo. Está na Academia Brasileira de Letras. Paulo Coelho é também reconhecido como autor e o maior vendedor de livros do Brasil. Será que temos que ficar estudando sempre os mesmos autores do passado?

 
Não devemos esquecê-los, porém, o mundo gira – temos nova safra de escritores e poetas do século XX e no XXI.
 
Parece até que nas universidades as LEITURAS DOS TEXTOS DE JORGE AMADO E PAULO COELHO vão denegrir a imagem do “mestre” ou “eletrocutar o cérebro do educando”. Cadê a escola democrática que tantos falam? É preciso que esse tipo de educador demonstre ao educando que essa ou aquela leitura tem os seus aspectos RELEVANTES E IRRELEVANTES. Cabe ao leitor descobri-las. Para isso o educador tem que ensinar, também, a LEITURA COM ANÁLISE CRÍTICA.

De certo modo educador que age dessa forma não percebe que está se aliando ao “ALGOZ DO MARQUEZ DE SADE”. Mas, que não o segura! É necessário, hoje, agora, dar LIBERDADE AO EDUCANDO PARA LER O QUE ELE QUER. Que ele (educando) tenha escolhas.
 
Nunca se esquecer de dar um enfoque especial à gramática normativa e à linguística, porque é através delas que podemos estruturar interpretar e dar sentido às nossas leituras e produções de textos.
 
Aquela pedra atirada na escola, ainda tem lugar na Academia e assento regulamentado no ônibus. Evidentemente mais aperfeiçoado, “buscando um novo mundo de comunicação nesse tipo de discurso, pressuroso em inovar os conteúdos, sem manter velhas formas” de leitura. 

As minhas novas vivências com a leitura têm me deixado estimulado, a ponto de com uma só cabeça pensar que posso ter tantas outras.
 
Aceitação, não aceitação, inconsistência, falta de expressão, tudo passa por uma cabeça. Passou inúmeras vezes pela minha que cheguei, num passado distante, “viajar num rabo”. O rabo de foguete que pilotei quando me deparei, de tamancos, cheirando a carniça, bloqueado pelas portas onde vive o mundo e o saber. 

Mal vestido, mal calçado, a “general” gritou: “PARE! ASSIM VOCÊ NÃO PODE ENTRAR!”
 
A bibliotecária, como nos filmes de terror: nariguda, feia como “briga de foice”, barrou-me. Distanciou-me da compreensão e da razão. Era a primeira Biblioteca, em minha vidinha de menino pobre, que eu tentava entrar.
 
 A decepção foi imensurável! Mas, graças a LEITURA COMTEMPLATIVA E DE MUNDO tirei aquela “pedra do meu caminho”. Entendi que a leitura NÃO ESTÁ SOMENTE DENTRO DA BIBLIOTECA. Ela também está estreitamente ligada ao crescimento do ser humano. Que ela se apresenta em diversas formas e cores, como num quadro na parede. Na disposição e abnegação de retratá-la do mesmo ponto, no mesmo horário, todos os dias, e ser diferente. Porque há diversas maneiras de ler.

Conhecer textos diversos e interessantes concorre para a formação do hábito da leitura. Encantar-se com o movimento que a leitura dá a vida. “È o processo de leitura que desvela que o lúdico é um princípio motivador que aproxima o leitor do real, despertando o prazer que por muitas vezes É REPRIMIDO” em virtude daquilo que já informei: leituras forçosas. Para este velho leitor:

Ler significa C R E S C E R!
C= Crer.  
R= Reviver. 
E= Escrever. 
C= Conhecer. 
E= Entender.  
R= Rir. 
 
Rindo e reunindo letras. Formando e reformando palavras, tais como: Deus, amor, saudade, solidariedade, amizade, bondade, dignidade, liberdade, d’água...
 
 Portanto, nada neste mundo cresce de tal modo que não se expande para cima, para baixo ou para os lados. E é no crescimento da LEITURA que se aprende a escrever com racionalidade, desenvoltura e liberdade.
 
Saber ler é descortinar o mundo. Saber LER e ESCREVER é viajar sem pedir passagem; sem delimitar fronteiras e nem barreiras.


Aprender a LER e a ESCEVER é ganhar a LIBERDADE. LER COM LIBERDADE é voar sem ter asas. Conhecer o mundo real e o mundo fictício. Ir, enfim, ao infinito.


Acreditar no PODER DA LEITURA é acreditar no PODER DE TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM E DO MUNDO.

Faça CHOVER LEITURA! Comece hoje, agora, logo! Suas “gotas” farão germinar olhos de sabedoria!