sexta-feira, 11 de março de 2011

Apreciação e desempenho da minha 1ª monitoria

OLE*: Compromisso em formar seres pensantes

“Não se pode ensinar alguma coisa a alguém.
Pode-se auxiliar a descobrir.”

Galileu

Esse pensamento de Galileu Galilei, físico, matemático e filósofo italiano que teve um papel preponderante na chamada revolução científica, é o reflexo de como iniciei o exercício da monitoria do Ateliê Oficina de Leitura e Escrita, que foi uma das melhores experiências que tive dentro da UNIJORGE.
Fui convidada pela coordenadora, a Professora Mestra Ada Marques Porto Leal, graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador (1987); especialista em Leitura e Análise do Discurso e em Metodologia do Ensino Superior e Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (2005); concursada da SEC-Ba e também professora do Colégio Estadual Governador Roberto Santos.

Segundo O professor Paulo Freire (2003, p.11), “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. A linguagem e a vida a nossa volta estão constantemente ligadas. Por isso, “a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”. Com isso, através do exercício da monitoria, fui levada a ajudar aqueles que diferentes de mim, não tiveram a oportunidade de ter o contato com o mundo da leitura, ou talvez que não tenham essa predisposição para ela. Pois, como afirma Pablo Picasso Faria, em seu artigo Os PCN e a Aula de Português, “o professor formado deve vivenciar o que irá ensinar, (...) O gosto pela leitura, pelo conhecimento, o respeito à diversidade linguística, entre outros, devem ser requisitos indispensáveis ao professor”.
Desde que soube que tinha sido selecionada para ser monitora do Ateliê, comecei a procurar em minha biblioteca particular, textos que poderiam ser utilizados durante as aulas, mas levando em consideração o que seria realmente interessante e o que geraria um melhor aproveitamento. Comecei meu trabalho não com o objetivo de ensinar algo, mas com o objetivo de auxiliá-los a descobrir o prazer de ler/ escrever e desenvolver o espírito crítico, contribuindo para que acreditassem em si e compreendessem que poderiam crescer na expressão escrita, mostrando que não existe gente melhor ou pior, mas que “somos todos gentes”, como dizia Freire.

Encontrei estudantes que apesar de estarem no nível superior, encontravam grandes dificuldades hora para interpretar, hora para produzir textos com autonomia, objetividade e coerência. Pessoas que nada liam e quando liam, eram leituras de baixo grau de contribuição ou por obrigação. Mas, estudantes que tinham traçado objetivos maiores que os comumente esperados. Buscando algo maior. Não querendo passar despercebidos. Cada um diferente do outro. Diferente na raça, na classe, nas crenças, mas, todos ansiando a mesma coisa, se destacarem dos demais.
Meu objetivo maior foi desenvolver a competência de leitura e escrita deles, por que por mais de termos cursado cursos distintos, eu, como profissional da área de Letras, me sentia na obrigação de ajudá-los a sair com a capacidade de escrita mínima necessária para atuarem profissionalmente. Por isso, tentei levar de forma inteligente e divertida, questões de grande importância para a compreensão das atividades de nossa sociedade, envolvendo temas relevantes e comuns às áreas dos alunos participantes, para que não se sentissem deslocados, trabalhando de forma contextualizada.
          


          Agi de modo a apresentar o mundo da leitura, expondo diferentes gêneros textuais para eles, como a charge, tirinhas, poemas, resenha, artigo etc. e outros recursos como, músicas e filme. Por que, assim como consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Língua portuguesa, 1998):

Os gêneros existem em número quase ilimitado, variando em função, da época (epopéia, cartoon), das culturas, (haikai, cordel), das finalidades sociais (entreter, informar), de modo que, mesmo que a escola se impusesse a tarefa de tratar de todos, isso não seria possível. Portanto, é preciso priorizar os gêneros que merecerão abordagem mais profunda. (...) Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada.

Dessa forma que trabalhei, com o mesmo discernimento que um professor da Instituição, mas com a vontade de fazer daquele espaço, um lugar confortável, onde pudessem se sentir a vontade para opinar, criticar e assim aprenderem.
Todas as atividades feitas tinham a preocupação de mostrá-los que todos tinham condições de produzirem bons textos, a partir do exercício da interpretação ao refletir e criticar, porque ler é uma atividade que devemos estar sempre praticando.

Geralmente as pessoas acreditam que alguém escreve bem porque tem grandes inspirações. Enganam-se, pois como um dia disse João Cabral de Melo Neto, para escrever é preciso depurar a formar, porque “Catar feijão se limita com escrever; joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.”
É comum, ao escrevermos um texto, mudar uma coisinha aqui, outra ali. Essas correções aperfeiçoam nosso trabalho e instigam nossa mente de forma a sempre pensar algo novo. Mas como escrever sem refletir? Primeiro devemos ter pensamento autônomo, sermos críticos, possuirmos argumentos e ter um bom vocabulário. A leitura possui esses papéis. Embora não seja somente isso, pois devemos ser capazes de usar as palavras de todas as formas possíveis, “poder fazer uso delas em toda a sua potencialidade, em diferentes níveis de complexidade e significação”, como nos mostra Edleise Mendes (2007) em seu artigo intitulado “Lutar com as palavras: o processo de desenvolvimento da leitura e da escrita de alunos do ensino superior”.

O exercício da monitoria me possibilitou “ampliar horizontes”, enxergar o que estava além das aulas de gramática da Língua Portuguesa. Evidenciando a linguagem como “expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma de comunicação”, como propunha Geraldi (1984), me fazendo questionar sobre o real papel do professor ao fazer com que me deparasse com dificuldades, situações novas, que talvez nunca achasse que pudesse superar, descobrindo assim, o tipo de profissional que desejo ser, comprometida em formar seres reflexivos. Podemos confirmar esse conceito com a leitura do artigo “Ensino de Português: princípios e rotas” de Jane Silva, Juliana Assis e Maria Matencio, quando elas afirma que:

O objetivo principal do ensino de Português deve ser o de criar condições para que o aluno, através da reflexão sobre o funcionamento da língua nos textos, seja capaz de desenvolver sua competência comunicativa de forma a interagir, com sucesso, em diferentes situações sociocomunicativas demandadas por uma sociedade tecnologicamente complexa. Em sentido mais amplo, trata-se de instrumentalizar o aluno para atuar como sujeito critico no processo escolar e também, por decorrência, em outros espaços sociais.

Senti-me testada, muitas vezes, por alguns alunos participantes do Ateliê, pois sempre me perguntavam sobre livros e autores, mas não me chateei em momento algum, pois concordava que para formar leitores, deveria ser um exímio exemplo de leitora.

Fiquei realizada ao fazê-los pensarem sobre o que liam e o que escreviam na tentativa de mostrar a importância disso tudo para a vida. Acredito que também consegui mudar a concepção deles de que o primordial era trabalhar somente a gramática, pois todos os debates provocados foram bem repercutidos e pude notar a caminhada que cada participante trilhou, já que todos foram capazes de avançar, cada um com uma velocidade, mas nenhum na inércia. Por isso, acredito que possibilitei ao menos um acréscimo, mesmo que pequeno, mas que seja o início de uma grande viagem no mundo das palavras. Espero que não seja esquecido, porque com certeza essas lembranças eu carregarei comigo para sempre.
Ao fim da minha monitoria, fui informada pela coordenação do NOLE que poderia continuar meu trabalho nesse semestre já que continuaria a ser estudante dessa Instituição, pois estou inscrita na Especialização Leitura e Produção de Texto da UNIJORGE Pós-Graduação. Fiquei muito contente e acredito que minha primeira experiência servirá de escada para alcançar lugares ainda mais altos pelos meus alunos, pois estou com um “gás” ainda maior, novas idéias e ainda tenho o privilégio de conhecer o mecanismo da Oficina, além de sentir que será um novo desafio.
Foi com a ajuda da professora coordenadora Ada Marques que pude conhecer esse “novo mundo” e é ainda com a ajuda dela que poderei permanecer nesse exercício, aprendendo mais do que ensinando.


“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,
 nunca tem medo e nunca se arrepende.”

Leonardo da Vinci
*OLE: Oficina de Leitura e Escrita

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