sexta-feira, 11 de março de 2011

Primeira turma - 2010.2

“Oh! Bendito o que semeia
Livros...livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe—que faz a palma,
É chuva—que faz o mar!”

Castro Alves

                        Como nos versos de Castro Alves, semeei a leitura entre os estudantes participantes da Oficina. No início fiquei um pouco preocupada com a heterogeneidade da turma e com a situação de que alguns simplesmente passavam e não permaneciam. Mas comecei de modo a prestar atenção aos gostos de cada um e aos cursos em que estavam matriculados. 

                      Chegaram a passar cerca de 20 alunos no meu Ateliê (o que era o limite máximo permitido por Oficina). Uns somente para conhecer, outros porque estavam de “bobeira” na faculdade, mas somente 8 permaneceram assíduos as aulas e chegaram ao final do curso. Isso nos mostra como sujeitos que deveriam ter uma preocupação maior com a leitura e escrita, simplesmente descartam a possibilidade de aperfeiçoarem suas habilidades e competências por serem criados em uma sociedade na qual possui tantas futilidades em primeiro lugar, como a preocupação com um estereotipo de beleza divulgado 24 horas pelas mídias de comunicação.

                        Os participantes que ficaram estavam regularmente matriculados no Centro Universitário Jorge Amado, cursando o 1º, 3º e 4º semestres dos cursos de Psicologia, Design Gráfico, Engenharia Petróleo e Gás, Direito e Letras Vernáculas.

                        Sendo assim, os alunos que participaram da Oficina foram: Andréa Rios de Almeida Mendes, Geovane Casaes de Freitas, Jairo Pinto da Hora, Leandro Leite Frexeiras, Nibsa de Assis dos Santos, Patrícia Oliveira da Silva, Roseni Santos Braz e Ruana de Jesus Evangelista.
             
             Nossos encontros eram as quintas feiras das 17h10min às 18h50min. Nessa turma havia todo tipo de natureza de alunos. Da extremamente tímida e retraída à comunicativa e geradora de muitos debates. Mas sentia compromisso em todos os participantes. Percebi o esforço que os meninos faziam quando saiam correndo do trabalho para chegarem a tempo na aula. Com exceção de uma, todos participavam, mas essa também, logo se rendeu e ao final do curso mostrou uma grande mudança. Eles tiravam dúvidas e nas aulas seguintes sempre apareciam com uma informação nova, sempre contribuindo gratuitamente. Eles praticaram a leitura, tanto silenciosa quanto em voz alta. Nenhum se quer ficava mais sem participar das aulas. 

            Tive a idéia de começar todas as aulas com uma frase. Frases de pensadores, escritores, retiradas de letras de música, provérbios etc. verdadeiras ou não, mas com o objetivo de instigar a reflexão deles e fomentar a socialização, incentivando a interação e a relação entre professor-aluno e aluno-aluno, pois eles deviam apresentar aos colegas seu ponto de vista, cumprindo assim o papel de alunos ativos desde o início das aulas. Surpreendi-me com a aceitação deles com relação a esse exercício, pois todos opinavam, concordando ou discordando dos demais, mas sempre respeitando e aceitando o outro como um ser diferente do seu. Alguns até levaram suas preferidas para também discutirmos em aula.


             Os alunos em geral não tinham o hábito de ler, muito menos de escrever. As meninas de Psicologia ainda tiveram experiência com a leitura, chegaram a comentar alguns romances que já tinham lido, mas confessaram não serem muito fãs desse exercício e, que o quê mais liam era simplesmente por obrigação. 







             Os meninos de Design Gráfico eram diferentes, contaram divertidas histórias da infância com relação à leitura, experiências passadas por seus pais e avós, mas que por falta de tempo e até mesmo traumas, acabaram desgostando dessa atividade. 

                        A menina do curso de Direito gostava de poemas e disse até ter feito alguns. Com o decorrer do curso ela os levou para que eu os pudesse ler, mas também dizia que o que mais consumia eram livros dentro da sua área. 

                     
                  Já a menina do curso de Letras Vernáculas tinha o hábito de ler, talvez por necessidade, porque para “sobreviver” nessa área devemos nos alimentar de livros, termos prazer pelo conhecimento contínuo, embora não seja um dever limitado apenas a universitários dessa graduação. Ela gostava de Literatura e também escrevia poemas.
           
                 Por fim, os meninos de Engenharia Petróleo e Gás me chocaram no início do Ateliê, quando um deles relatou nunca ter lido um livro se quer e o outro que pouco tinha lido também. Mas, apesar da surpresa que tive, me senti lisonjeada quando o que nunca tinha experimentado a “viagem” que um livro pode proporcionar, super feliz, me contou que tinha –durante o caminhar da Oficina, para fazer uma resenha- lido um livro todo. O livro foi “Ensaio sobre a cegueira” do escritor, romancista e poeta português, José Saramago. Esse mesmo aluno era muito ligado a tecnologia, internet etc. e sempre após as aulas me enviava por e-mail, imagens, mensagens e vídeos que lembravam os assuntos debatidos anteriormente em grupo e em sala de aula. Sempre encaminhava seus e-mails para os demais da turma.


               Esses rapazes e moças passaram a se expressar através da escrita por meio de gêneros textuais inesperados e desconhecidos por eles. Como a resenha acadêmica crítica, e até mesmo poemas.

                      Tiveram a oportunidade de ter maior contato com esses gêneros, já que muitos deles assim como eu, entraram na universidade sem saber nem mesmo como deve ser feito um resumo. Aprendendo a identificar esses textos distintos e também produzi-los com coerência e coesão. Pois, como afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais (Língua portuguesa, 1998):

               Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas.

                      A turma me mostrou que, apesar de não terem hábitos iguais aos meus, são extremamente criativos e em suma, conseguiam escrever bem. O que me fez compreender que realmente eram carentes de apóio e elogios. Por isso, faz-se “necessário que trabalhemos a auto-estima do estudante, a sua valorização enquanto sujeito que pode crescer, aprender, independente da dificuldade maior ou menor que apresente ao produzir os primeiros textos.” (MENDES, 2007. p. 14).

                      O que também me surpreendeu foi o grande número de erros ortográficos, concordância e pontuação. O que me senti a vontade para também trabalhar com eles, já que os mesmos tinham pedido para que eu os chamasse a atenção.

                       Fiquei muito feliz com o progresso de cada um durante o decorrer do Ateliê. Também não tive grandes dificuldades durante o processo, pois não me senti deslocada e muito menos sozinha. Tive sempre o apoio da coordenadora do NOLE que me dava suporte para o que eu necessitasse.

                        Já com relação aos “meninos e meninas”, não consigo mais vê-los como simples alunos, pois através do Ateliê criamos laços de amizade. Não nos víamos somente no dia do nosso encontro, mas mantínhamos contato durante toda a semana, hora na própria UNIJORGE, hora através de e-mails e ligações. Prova de que ficamos ligados e de que realmente gostaram do modo como trabalhei é a afirmação de alguns deles de que se tornarão “repetentes”, pois gostariam de repetir comigo o curso durante o novo semestre - 2011.1. Ligam-me e perguntam ansiosos quando iniciarei. E eu, também ansiosa espero por esse momento.



“Para conseguirmos a amizade de uma pessoa digna
 é preciso desenvolver em nós mesmos
as qualidades que naquela admiramos.”

Sócrates
                  

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